10/01/2008



Encontro de Violas - Viola Campaniça e Viola Caipira,

Pedro Mestre e Chico Lobo

São João del Rei 2006




Os Cantares da Meia-Noite, Pedro Mestre, Carlos Rosa e Toi Gonçalves, falta o Bia que estava a tirar a foto!

Cante ás Vozes

Os 4 ao Sul

José David, José Barros, Pedro Mestre e Rui Vaz.






Folclore Musical do Ciclo de Natal
Cante ao Menino Janeiras e Reis

De Norte a Sul de Portugal, ainda se ouvem cantos populares característicos do nosso Folclore Musical do Ciclo do Natal, nomeadamente o Deus-Menino, as “Janeiras” e os Reis, e que infelizmente tendem a desaparecer. Estes cantos populares são incontestavelmente, uma tradição antiquíssima e que, por isso, interessa muito a sua conservação.
Em traços gerais, os cantos populares referidos caracterizam-se por grupos de homens ou de mulheres com algumas crianças atrás que percorrem as ruas com paragens previamente escolhidas junto de certos portais, donde podiam trazer esmola em dinheiro ou em oferta comestível. Por vezes, eram convidados a entrar nas casas e punham-se à mesa, onde se servia aguardente aos homens e anis às mulheres com filhós e bolos a acompanhar.
O Deus-Menino é cantado na Noite de Natal, em que as pessoas vão cantar às portas canções cujo tema incide na recordação do nascimento de Jesus Cristo.
As “Janeiras” (dos três cantos populares o mais antigo), no seu início, era um canto pagão, sendo-lhe atribuída, por uns historiadores, a sua origem às Saturnais pagãs do calendário romano, enquanto que, por outros historiadores, é atribuída às festas comemorativas do começo do ano agrícola. No entanto, após a aceitação do Cristianismo pelo Império Romano, foi-lhe atribuída um novo significado: o Ano Novo no Cristianismo simboliza “o primeiro dia em que Deus passou tormentos”, ou seja, foi quando Jesus Cristo sofreu a circuncisão, em obediência às leis humanas. Por isso, é que as “Janeiras” são cantadas na noite de São Silvestre em alusão ao tema referido anteriormente.
O canto Os Reis é cantado na Noite de Reis. Nesta noite verifica-se novamente manifestações de alegria popular cantada às portas em tom dolente e grave. Os versos recordam a vinda dos Três Reis Magos, que vêem do Oriente para adorarem o Deus-Menino.




Grupo Violas Campaniças
Ilha dos Vidros

O chamamento da memória
Ouvir uma viola campaniça é responder a um chamamento. Não para o abismo ou desgraça mas para uma zona onde a paz de espírito envolve como crisálida tecida a doce e a tufos de penugem. As modas parecem vir lá do fundo libertando-se de amarras que as ligam às coisas perenes e belas como recordações de infância. É o chamamento da memória, dos amores passados à sombra dos seus trinados, das espirais de rodopios de mãos dadas, de corpos abraçados em comunhão. Ouvir a campaniça é lavrar um rego até ao horizonte das nossas sonoridades mais íntimas. As modas que acompanham são récitas a um tempo e a um espaço que continua a existir, porque queremos que exista. A Ilha dos Vidros pertence a um imaginário escorreito, ali, à mercê de um colectivo que morre todos os dias sem nada se saber da sua morte. Gente que atravessou a vida a pé mas que teve momentos de alegria e de amor, momentos de alegria e de amor, momentos de sorte e de azar. Venho da ilha dos vidros cantarola um almocreve atrás da charrua. Cantarola uma teenager pousando a mala dos vidros. Pedro Mestre é o legado de Manuel Bento tocador exímio, mestre na arte de dedilhar em toda a campaniça. Noiva de amor antigo, o cante ao baldão, que rejuvenesce para gáudio de todos nós.
O que Manuel Bento é agora Pedro Mestre. Acresce o talento porque Pedro está a iniciar um caminho que o levará para os outros caminhos. É construtor de violas. É ensaiador de grupos corais. Vive da viola campaniça e para a viola campaniça. Vamos em breve ouvir falar dele em particular. Nesta ilha dos vidros canta a duas vozes e assobia. É uma experiência que provoca a linha purista da tradição. É uma tentativa de levar a viola e as modas campaniças para um patamar de maior audição. Uma tentativa para que outros Pedros Mestres entrem em contacto com a viola. Iremos amplificá-la para que peça meças a outras violas e conquiste assim a atenção de potenciais tocadores. Para onde irá não se sabe. É chegado o tempo de a colocar noutras mãos e noutros ambientes. Aqui está uma tentativa. O público que ainda desconhece o mundo da viola e das modas campaniças vai ouvir novidade. E a novidade é boa. Pedro, Márcio, Celina, Lucinda e Evangelina. Deram o seu melhor para este CD. Agradecem a todos os que ouvirem.
José Luís Jones
Grupo Violas Campaniças:

A viola campaniça apesar de antigamente expandir-se por quase todo o Baixo Alentejo, hoje em dia é um instrumento praticamente desaparecido do universo da música tradicional portuguesa, circunscrevendo-se somente a dois ou três concelhos e a meia dúzia de tocadores.
Actualmente, este instrumento musical é utilizado para acompanhar modas cantadas, por duas ou três vozes, mas outrora acompanhava corais e modas de baile.
Actualmente o Grupo musical Viola Campaniça constituído por cinco elementos, dois tocadores (Pedro Mestre e Márcio Isidro) e três vozes (Lucinda Mestre, Evangelina Torres e Celina Piedade) e tendo como responsável o Pedro Mestre, constitui um dos grupos musicais, senão o único, que mais contribui para a divulgação, quer a nível nacional quer a nível internacional, deste instrumento musical e, consequentemente, para a sua preservação.


Viola Campaniça
A viola popular portuguesa chegou até aos nossos dias sob várias formas e denominações: braguesa, ramaldeira, amarantina, toeira, de arame, da terra e, no sul do país, campaniça.
Descendente da viola barroca, a viola popular portuguesa chegou até nós com cinco cordas duplas. No Baixo Alentejo tomou o nome característico de viola campaniça. A origem do nome vem, inquestionavelmente, da sua radicação na zona do “Campo Branco”, geograficamente situada na região que compreende os concelhos de Aljustrel, Ourique, Castro Verde, Almodôvar e parte do concelho de Odemira.
Na primeira metade da década de 80, ocorreu uma investigação sobre a viola campaniça. Aquando da sua fase exploratória, verificou-se que os tocadores deste instrumento musical já estavam todos em idade avançada, entre os quais é de destacar: Manuel Bento (Funcheira) e Francisco António (Ourique-Gare).
No entanto, nos finais da década de noventa, gerou-se um movimento de renascimento e entusiasmo em torno da viola campaniça, o que veio a causar o surgimento de jovens tocadores do instrumento, entre os quais Pedro Mestre.


Pedro Mestre é natural da localidade Aldeia de Sete, concelho de Castro Verde, localidade onde ainda reside. Desde pequeno que nutre um enorme gosto pela música tradicional alentejana, devido ao facto de ouvir a sua mãe cantar modas alentejanas. Posto isto, entrou aos 10 anos para o Coral Infantil “Os Carapinhas” e, aos 12 anos, aprendeu a tocar viola campaniça com o mestre Francisco António (mais conhecido por Chico Bailão). Aos 13 anos ingressou no Coral Masculino “Os Ganhões” e um ano mais tarde assumiu o cargo de Mestre Ensaiador do mesmo grupo.
Em 2001, foi fundador de dois grupos corais da freguesia de Santa Bárbara de Padrões: Grupo Coral e Etnográfico “Os Cardadores” e Grupo Coral e Etnográfico “As Papoilas”, sendo também o mestre Ensaiador dos mesmos. Em 2002, assume o lugar do seu mestre – Chico Bailão –, dando continuidade ao Grupo de Violas Campaniças de Castro Verde, no qual fica a tocar com o mestre Manuel Bento. Neste ano também se dedica à construção de Violas Campaniças, que aprendeu a construir com o artesão Amílcar Silva. Em 2003, fundou, na Aldeia da Sete, a Associação de Cante Alentejano “Os Cardadores, com o objectivo de preservar os usos e costumes do concelho de Castro Verde. Neste ano e, em 2004, foi formador na Escola/Oficina de Violas Campaniças, dinamizada pela Cortiçol – Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde. Em 2007 foi participação especial no espectáculo multicultural, “O Homem que À Terra Canta”, no IV Encontro de Culturas de Serpa (Portugal), que reuniu artistas de Portugal, Brasil, Espanha e Cabo Verde. Em 2007 lançou ao lado do Violeiro do Brasil Chico Lobo o Cd 'Encontro de Violas – Viola Campaniça e Viola Caipira" – trabalho inédito no mundo e que demonstra como duas culturas podem interagir pelas cordas das violas"

Nos anos lectivos 06/07 e 07/08 foi animador de música tradicional/cante alentejano, na disciplina de música tradicional/cante Alentejano nos quatro anos de escolaridade dos alunos das escolas do 1º ciclo do ensino básico, do concelho de Almodôvar.
Pedro Mestre já editou vários trabalhos de grupos corais, dos quais é Mestre e mantém actualmente como ninguém a tradição do toque da viola campaniça, efectuando espectáculos por todo o País e no estrangeiro. Para além disto, também é artesão e preside uma das maiores associações do concelho de Castro Verde, a ACA Os Cardadores.
Actualmente, Pedro Mestre apresenta a viola campaniça em três formas: uma com o Grupo de Violas Campaniças, acompanhado de vozes femininas, outra acompanhando improvisadores do cante de despique e baldão e, outra ainda, apresentado modas campaniças a solo, acompanhado por outros instrumentos (viola ritmo, viola baixo e precursão).


Grupo Coral e Etnográfico “As Papoilas”


O Grupo Coral Feminino e Etnográfico “As Papoilas” foi fundado em Junho de 2001 por um grupo de amigas que cantavam em tempo de festas e bailes tradicionais e até mesmo em excursões organizadas por o mesmo grupo de amigas.
A escolha do nome do grupo (“As Papoilas”) deve-se ao facto de no Alentejo haver muitas papoilas, que, por sua vez, é uma planta que embeleza as planícies alentejanas na Primavera.
No início começaram só por ser um Grupo Coral e cantavam modas tradicionais de bailes de rodas, mas depois perceberam que necessitavam de um ensaiador que as organizasse e convidaram o mesmo do outro grupo coral da freguesia. Foi nessa época que se juntaram à Associação de Cante Alentejano da freguesia e decidiram passar a denominar-se Grupo Coral e Etnográfico.
Devido a esta situação, o Grupo passou a usar farda (uma farda de trabalho do campo, da ceifa e da moda – saia preta, camisa branca e lenço encarnado) e a cantar modas do cancioneiro tradicional.
O Grupo tem participado em vários encontros de grupos corais, festas e romarias de todo o Alentejo, Algarve e até da área de Lisboa.
Aquando do aniversário do Grupo, organiza-se um encontro de grupos corais, proporcionado pela Associação de Cante Alentejano “Os Cardadores”.
Associação de Cante Alentejano “Os Cardadores”

A Associação de Cante Alentejano “ Os Cardadores” (com sede no largo do Centro, nº 3 Aldeia da Sete, Freguesia de Santa Bárbara e Concelho de Castro verde), foi fundada a 06 de Abril de 2004, com o objectivo de preservar e divulgar o Cante Alentejano, assim como os usos e costumes do concelho de Castro verde; manter em funcionamento grupos corais de Cante Alentejano; promover acções por sua iniciativa ou colaborar com outras entidades, com vista à referida preservação e divulgação do Cante Alentejano.
A Associação nasceu do grupo Coral e Etnográfico “ Os Cardadores” foram os seus membros que fizeram com que o grupo que existia na Aldeia se constituísse com a Associação.
Posteriormente, a associação passou a dar cobertura a mais dois grupos existentes na nossa Freguesia, o grupo Coral Feminino “ As Papoilas “ e o grupo de “ Violas Campaniças “.
A Associação tem desenvolvido várias iniciativas de desenvolvimento cultural com os espectáculos no concelho e participado em outros eventos por todo o País, com a participação dos seus três grupos.
A Associação tenciona desenvolver as seguintes actividades:
§ Dinamizar o Centro de Convívio e Cultural da Sete, dando assim resposta ás preocupações manifestadas pela Junta de Freguesia de Santa Barbara dos Padrões e pela Câmara Municipal de Castro Verde, bem como, da população residente.
§ Manutenção dos Grupos Corais da Freguesia (o Grupo Coral e Etnográfico “Os Cardadores”, o Grupo Coral Feminino e Etnográfico “ As Papoilas “ e o Grupo de “Violas Campaniças”);
§ Dinamização de actividades culturais ligadas com a tradição (como por exemplo, workshops e exposições);
§ Dinamização uma Oficina de Construção de Viola Campaniça, integrando o projecto de artesanato de Castro Verde, com o objectivo de aproveitar as condições logísticas já reunidas pela Câmara aquando da parceria com outras instituições.
§ Edição de cd’s dos três que fazem parte da Associação e de livros de poesia feita por poetas da nossa terra, de modo a promover a cultura local.
§ Recolha de peças tradicionais (utensílios domésticos, laborais e domésticos), com o objectivo de dar a conhecer algumas tradições, usos e costumes que foram das nossas gentes.

Nota:
A Associação vai editar no inicio do próximo ano um cd por cada grupo, então seria o nosso objectivo fazer no vosso programa,” Portugal no Coração” a apresentação desses novos trabalhos de musica tradicional alentejana, que quando esses trabalhos saírem ao publico temos a certeza que o cante tradicional alentejano nunca mais será o mesmo e vai ser uma mais valia para o Alentejo e seus grupos.
Nós tentamos fazer com que as modas tradicionais do cancioneiro passem a ser cantadas de forma tradicional mas acompanhadas com alguns sons de instrumentos tradicionais que se enquadram muito bem na forma de cantar á Alentejana.
Juntando assim várias culturas e várias tradições da musica tradicional do nosso pais e do mundo.

Grupo Coral e Etnográfico “Os Cardadores”

O Grupo Coral e Etnográfico “Os Cardadores” foi fundado a 16 de Março de 2001, com o objectivo de envolver a população da aldeia na realização de eventos culturais.
Na primeira reunião compareceram pessoas de ambos os sexos, mas como era difícil enquadrar o tom de voz das mulheres como o tom de voz dos homens, optou-se por um grupo só com elementos masculinos.
A denominação “Os Cardadores” (homens que a seguir à tosquia, entre a monda e a ceifa, tratavam da lã, cardavam-na às pastas e faziam os arrátes, que depois passavam para as mãos sábias das tecedeiras, que teciam as mantas tradicionais), deve-se ao facto de, antigamente, cerca de 90% da aldeia da Sete trabalhar a lã (os homens cardavam para as suas mulheres tecerem as mantas para depois vender na Feira de Castro).
Relativamente à sua farda, esta é de cotim castanho, calça de trabalho, camisa de riscado das ceroulas com peitilho e presilha para abotoar o botão das ceroulas aberta até ao meio e sem colarinho, colete de pano e riscado, blusa aberta com bolsos e colarinho, lenço quadrejado castanho, chapéu preto alentejano de aba larga, bota de vitela e de sola batida tradicional.
Actualmente, o grupo é composto por 26 elementos e tem um reportório de 35 modas, todas do Cancioneiro tradicional e cânticos religiosos (cante ao menino, janeiras, reis e cante para pedir chuva).
Editou-se um cd em Julho de 2003, com 12 temas (10 modas do Cancioneiro tradicional, cante ao menino e Oração das Almas, a que se denominou por “Moda dos Cardadores”).